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Linha Diabetes

Linha Diabetes

Organizar a Prevenção

29.10.08, João Vilela Gonçalves

O aumento da esperança de vida, provoca um maior consumo de recursos na Saúde. Centros de cuidados intensivos nascem por todo o lado, numa verdadeira moda, destinados ao tratamento de doenças agudas mas, essencialmente, de complicações de doenças crónicas; nestes casos as mesmas poderiam ter sido prevenidas, caso os cuidados de saúde tivessem sido devidamente planeados e geridos.

 

O planeamento dos cuidados preventivos cursa, de forma isolada, na criação de consultas disto, daquilo e daqueloutro, desprovido duma necessária abordagem integradora de todos os factores de risco para determinada patologia. Mais não é que um jogo de quintas e de vaidade, carente de eficácia e de estratégia.

 

A patologia cardiovascular é a principal causa de morte e de morbilidade em Portugal, responsável pela perda de anos de vida  e de importantes gastos na Saúde.

 

Certamente, não é com Unidades que preveniremos o crescente número de vítimas mas sim com a identificação, tão cedo quanto possível, da potencial população em risco, portadora dos factores predisponentes à ocorrência daquela patologia. Os congressos de Medicina, anualmente realizados, dão conhecimento das Normas de Orientação Clínica (Guidelines) internacionalmente aceites, permitindo o estadiamento da população de risco criterioso, assim como o seu tratamento.

 

Do ponto de vista organizacional, não tem cabimento haver consultas isoladas de factores de risco (diabetes, lípidos, hipertensão arterial), já que melhor integradas seriam numa grande Consulta de Prevenção Cardiovascular, embora, em termos de informação propícia a cativar a população alvo assim fosse necessário vendê-las.

 

As especialidades médicas são chancelas de aptidão e de formação básica de actuação e de cultura médica, porém,  mais que um “título”, o melhor médico é aquele que mais se interessa pela patologia, pela doença e pelo doente. Haverá classes de médicos mais aptos a dirigir uma Consulta de Prevenção Cardiovascular? Penso que sim. Os médicos com formação de Medicina Interna são, pela vivência inerente à sua especialização, os mais adaptados.

 

Mas nem só deles pode viver essa consulta. A multidisciplinaridade dos técnicos é fundamental. Dado que a abordagem da doença implica alteração de comportamentos no dia-a-dia, a presença de um dietista/nutricionista, um psicólogo e um professor de ginástica (!) são parceiros de primeira linha. A realização de exames auxiliares de diagnóstico, específicos, coloca o Cardiologista numa linha avançada de apoio, assim como o Oftalmologista e, provavelmente, o Podologista e o especialista em Medicina Dentária. O Nefrologista (Clínica de Hemodiálise), o Cirurgião Cardiotorácico e o Cirurgião Vascular seriam relegados para colaborarem no tratamento de uma complicação.

 

Onde colocaremos estas Consultas a funcionar? Os Hospitais são locais de saúde demasiado abertos, incapazes de cativar a população-alvo e incapazes de conter durante anos a população rastreada. Os Centros de Saúde poderiam ser pioneiros, mas estarão capacitados de técnicos motivados para esta abordagem? Serão os Centros de Saúde capazes de romper com os vícios de funcionamento caracterizados pela imagem que o utente faz do próprio Centro? Faltaria, também, a articulação com a totalidade dos técnicos de primeira linha.

 

Os sub-sistemas de Saúde podem desempenhar essa função de uma forma primordial. Se por um lado, podem ter perfeitamente identificada a população de beneficiários (na qual se aplicaria a estratégia de rastreio) e capacidade para a acompanhar, de forma planificada, ao longo dos anos, por outro, não seria difícil adquirir técnicos de saúde aptos e motivados para a implementação do Plano. Apenas um senão, o sistema contratual, a política de recursos humanos, deverá ser muito mais forte, próxima e de longa duração…a bem da eficiência do objectivo: prevenir os factores de risco, diminuir o número de novos casos da primeira causa de morte em Portugal, a patologia cardiovascular!

 

Gerir a Diabetes

23.10.08, João Vilela Gonçalves

 Os portugueses têm, pela sua situação geográfica, uma ideia da sua posição no mundo. Como se sentirão os noruegueses de Narvik? Empoleirados? Equilibrados? E os australianos, apesar de grandes, sentem o peso de todo o globo nos ombros? Será que os habitantes da Terra do Fogo vivem constantemente com a espada na garganta (leia-se o punhal do continente argentino)? Mas no fundo é sempre o mesmo Mundo, apesar das diversas perspectivas e pontos de vista. Mas neste Mundo existe heterogeneidade, de acordo com o modo como o vivemos.

 

A relação médico-doente alterou-se com os anos; o modo clássico da prática clínica, caracterizado pela anamnese, observação e da prescrição terapêutica, não basta para o sucesso do acto médico. Hoje, o doente e seus familiares são parceiros na negociação terapêutica, sobretudo se de uma doença crónica se trata. Porque numa doença crónica é marco essencial da terapêutica o comportamento que o indivíduo tem perante a sua doença.

 

A patologia cardiovascular é a principal causa de morte nos países ocidentais. Mas essas mortes, pelo menos algumas delas, podem ser evitadas, através do controlo dos principais factores de risco que predispõem aquela patologia. Não tem havido estratégias de grande dimensão e impacto de redução dos hábitos tabágicos ou de controlo da alteração do perfil lipídico, da hipertensão arterial ou da diabetes. Na maior parte dos casos estes factores surgem associados, potenciando o risco.

 

Relativamente à diabetes, existem cinco grandes estudos internacionais, de referência mundial, para a prevenção da doença. Em todos eles, os grupos sujeitos à prática de exercício físico regular e moderado, quando comparados com os grupos tratados só com dieta ou mesmo com um fármaco, tiveram menos casos de novos doentes diagnosticados.

 

Mais recentemente foram conhecidos os resultados do estudo INTERHEART que decorreu em 52 países, envolveu mais de 30.000 pacientes e teve como objectivo avaliar o efeito dos factores de risco cardiovasculares, que podemos alterar com o nosso comportamento, na ocorrência do enfarte cardíaco. O consumo diário de frutas e legumes e o exercício físico diminuem o risco; o tabagismo (mesmo se apenas 5 cigarros por dia) a obesidade abdominal, a diabetes, a hipertensão arterial (valores superiores a 120/70 mmHg) e o colesterol aumentam o risco. Mas a associação destes cinco factores multiplica por 12 o risco!

 

Como transmitimos aos nossos doentes a informação da necessidade da prática regular de exercício físico e seus benefícios? Diria, que de uma forma estereotipada, crua, vazia, pouco assertiva. Recentemente, elaborei com um grupo de 10 diabéticos um programa de avaliação do controlo metabólico durante a prática de Tai-Chi. Os resultados foram muito satisfatórios mas, mais importante que isso, foi criar condições para que 10 pessoas passassem a praticar uma actividade física. O “empurrão” dado permitiu ganhos perceptíveis na autoconfiança, na autoestima e na melhoria do bem estar e desempenho físico.

 

E se centrássemos a consulta de diabéticos no ginásio, junto a uma passadeira, educando o doente no gasto calórico de acordo com o exercício efectuado e suas repercussões no controlo metabólico? Isoladamente pode ser caricato, mas a aplicação dessa estratégia num grupo seleccionado, é por certo motivadora, lúdica e, provavelmente, eficaz. A avaliação clínica e laboratorial surge como complemento. A intenção é perder menos tempo na requisição de exames (supérfluos) e passar mais tempo na motivação do doente, tornando o seu comportamento mais direccionado para um estilo de vida mais saudável, cerne do controlo, não de um mas de vários factores de risco cardiovasculares.

 

Podemos abordar os doentes e a doença de diversas maneiras, embora a frequentemente utilizada careça de total eficiência. A ela estão inerentes gastos elevados de Saúde. Podemos abordar o tema de uma forma inovadora, provavelmente mais realista, mais próxima das pessoas. Até quando vamos continuar a resistir à mudança?

 

Gastar Energia no seu Dia-a-Dia

20.10.08, João Vilela Gonçalves

Gasto de calorias com as Actividades da Vida Diária (cerca de 30 minutos) (www.diabetic-lifestyle.com):

 

Arrumar a Casa                      : 75-125 calorias gastas

Fazer Camas                          : 70

Jardinagem                             : 150-225

Cortar relva (sem máquina): 150-225

Dançar                                     : 175

Andar (passo normal)          : 150

 

NOTA: compare com as calorias ingeridas nos alimentos ou seja, veja o que precisa de gastar para equilibrar o que come

HIPOGLICEMIAS: quando a glicemia baixa

12.10.08, João Vilela Gonçalves

Como sabe a HIPOGLICEMIA é uma baixa de açúcar (glicose) no sangue (glicemia inferior a 60 mg/dl).

 

No diabético, as CAUSAS são medicação excessiva ou, mais frequentemente, o esquecimento de uma refeição ou o seu atraso (não comer a horas).

 

Para PREVENIR a hipoglicemia há que atender ao seguinte:

 

1) cumprir os horários e número de refeições

2) comer antes de fazer exercício físico

3) cumprir o horário da injecção de insulina

4) confirmar a dose de insulina

5) respeitar a técnica de insulina

6) variar o local da injecção

7) os idosos devem estar especialmente prevenidos se medicados com glibenclamida (glibenclamida, Daonil, Semi-Daonil): uma hipoglicemia em idosos medicados com este fármaco devem ficar sob vigilância durante 72 horas.

 

SINAIS de AVISO de uma HIPOGLICEMIA:

 

1) Iniciais

 

fome súbita

suores frios

perda de forças

esvaímento

tremores

excitação, comportamentos irrascíveis e agressivos

discurso despropositado

palidez

palpitações

taquicardia (aumento dos batimentos cardíacos)

 

2) Intermédios

 

confusão

racíocinio lento e com dificuldade

bocejos repetidos

expressão apática

palavra presa

enjôos e vómitos

formigueiros nos lábios ou na língua

visão dupla

desorientação

discurso lento e sem sentido

 

3) Graves

 

desmaio

convulsões

coma

 

NOTA: cada doente responde à hipoglicemia de sua maneira. raramente estes sintomas e sinais aparecem todos.

 

 

TRATAMENTO

 

Quando sentir alguns destes sinais se puder pique o dedo e confirme o valor da glicemia. Caso isso não seja possível mais vale prevenir que remediar e proceder logo ao tratamento:

 

a) pastilhas de glicose (venda livre em farmácias e supermercados): Gluco Tabs, ou

b) açúcar, ingerir um pacote de minuto a minuto até alívio dos sintomas.

c) Glucagon (Glucagen Hipokit): injectável; administração em qualquer zona do corpo, para situações em que o individuo não colabora (coma). O glucagon é uma hormona que tem acção contrária à da insulina: tira glicose dos "armazéns" e coloca-a em circulação restabelecendo a normalidade dos níveis circulatórios sanguíneos.

 

A seguir deverá comer, por exemplo fruta e pão.

 

NOTE QUE a hipoglicemia é uma situação crítica que deve ser compensada de imediato. Como o tratamento se faz com açúcar é natural que após a correcção de uma hipoglicemia se possa suceder uma elevação de glicose no sangue. Esta será transitória e atenuar-se-á com o tempo. A seguir a uma hipoglicemia corrigida deve fazer-se uma vida normal.

EXERCÍCIO FÍSICO e GASTO CALÓRICO

09.10.08, João Vilela Gonçalves

Muito ou pouco são conceitos que variam de pessoa para pessoa. Aqui ficam algumas dicas para gastar calorias com a prática de exercício físico (American Heart Association 2007, www.aha.com): 

 

Caso o seu peso seja 45 kg, 68 kg, 90 kg, o gasto calórico para cada exercício é, respectivamente:

 

Andar de bicicleta (10 km/hora): 160, 240, 312 Kcalorias

Andar de bicicleta (19 km/hora): 270, 410, 534 Kcalorias

Jogging (11 km/h)                       : 610, 920, 1230 "

Saltar à corda (durante 1 hora): 500, 750, 1000 "

Correr ( 8,8 km/h)                        : 440, 660, 960 "

Correr ( 16 Km/h)                        : 850, 1280, 1660 "

Nadar (23 metros por minuto) : 185, 275, 358 "

Nadar ( 46 metros por minuto): 325, 500, 650 "

Jogar Ténis (1 hora)                  : 265, 400, 535 "

Andar (2,2 km/hora)                   : 160, 240, 312 "

Andar ( 4,8 km/hora)                  : 210, 320, 416 "

Andar (7,2 km/hora)                   : 295, 440, 572 "

 

Nota: alguns valores encontram-se arredondados

 

TENHO DIABETES: O QUE POSSO COMER.

02.10.08, João Vilela Gonçalves

O corpo humano adquire energia para funcionar através do consumo de alimentos. Os alimentos têm vários componentes energéticos (açúcares ou hidratos de carbono, gorduras ou lípidos, proteínas) em diferentes quantidades. Esses componentes dão energia (calorias) permitindo o organismo funcionar. Se consumirmos mais do que gastarmos, engordamos. Se gastarmos mais do que consumimos, emagrecemos. O DIABETICO DEVE COMER DE TUDO. TODOS OS ALIMENTOS SÃO PERMITIDOS.  Mas deve ter a noção que de acordo com os componentes energéticos de cada alimento, há os que lhe aumentam mais a glicemia do que outros. Estamos a falar da qualidade dos alimentos; as embalagens dos alimentos geralmente informam, por cada 100 mg, a quantidade existente de hidratos de carbono, de açúcares livres, de gordura, de proteínas, de calorias.  Já experimentou passear pelo hipermercado "estudar" a diferença destes componentes em alimentos semelhantes? Além da qualidade, há que atender à quantidade dos alimentos ingerida em cada refeição. É que os alimentos que consumimos são transformados em glicose, a fonte energética mais simples que o organismo utiliza para ver, para sentir, para pensar...enfim para desempenhar todas as funções para que está habilitado. A demora em utilizar essa energia contida na glicose caracteriza a "anomalia" existente na diabetes (tipo 2). Assim, quanto menor fôr a quantidade de alimentos ingeridos de cada vez, mais fácil se torna para o organismo assimilar e aproveitar a glicose contida nos alimentos ingeridos. Torna-se preferível comer mais vezes (comer uma fruta, um iogurte um pouco de pão a meio da manhã e da tarde) mas menos quantidade de cada vez.  Refeições mais pesadas mas menos frequentes (por exemplo, apenas pequeno almoço, almoço e jantar) dão uma sobrecarga momentânea de alimento que o organismo tem grande dificuldade em conseguir assimilar; assim, a glicose fica a "boiar" no sangue, criando uma sobrecarga para os vasos sanguíneos que a transportam, condicionando o seu desgaste prematuro SILENCIOSO, responsável das complicações crónicas (enfartes, tromboses, insuficiência renal, cegueira, amputações). O DIABÉTICO pode comer de tudo mas DEVE ESTAR MUITO MAIS ATENTO À COMPOSIÇAO DOS ALIMENTOS QUE INGERE. O diabético também tem direito a ter dias de festa mas DEVE SABER COMO SE PROTEGER  de uma carga de glicose suplementar. O diabético TEM DIREITO A SER FELIZ. O diabético TEM O DEVER DE PROTEGER A SUA SAÚDE. PEQUENAS ATITUDES PARA EVITAR GRANDES MALES.